domingo, 12 de agosto de 2012

Irmãos de ouro



            O Brasil chegou aos jogos de Londres com um fraco histórico no boxe olímpico, tendo conquistado apenas uma medalha de bronze há 44 anos, mas sai da competição subindo três vezes ao pódio e com a promessa de se tornar uma potência na modalidade nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. O destaque ficou para a bela trajetória familiar de Esquiva e Yamaguchi Falcão.  
A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento, não necessariamente na vitória. O mundo seria muito melhor se pudéssemos compreender a essência de tal frase. Somos escravos fiéis da frivolidade do resultado, e aos derrotados não dedicamos nenhum louvor. Mas como pode haver derrota na bravura? Dois irmãos, um enredo de cinema e uma prova inconteste de que a honra e o sucesso podem ser dignos dos desafortunados. Uma breve fábula...
Era uma vez dois irmãos que aprenderam a voar como pássaros; unidos pela emoção da alma e do coração. Filhos de um esporte; nasceram carregando uma marca indelével, a nobre arte. E que tolo pode ter criado esse termo? Não se enobrecem os instintos. Ferocidade e sobrevivência; lutadores são animais famintos, que brigam para saciar a sua fome. Sob o julgo das cordas, inexistem títulos ou fidalguia, apenas dor e mágoa. Essa mesma sensação pungente que maculava as mãos e os sonhos pueris daqueles dois meninos. Ávidos por um objetivo e sedentos pelos triunfos, esmurravam o destino e o tronco de uma bananeira.
Árvore que dá frutos e que tem o céu como consolo de suas raízes. O sol resplandece em suas folhas como ouro, na violência do amor fraterno. Esquiva e Yamaguchi, dois irmãos, dois cachos de prata e bronze. Derrubaram a Bananeira mediante a brutalidade de seus golpes, não a fizeram, porém, cair em terra ingrata, pelo contrário, ornaram-lha com o brilho eterno da glória. Benditos são os seus frutos!
Inveterados guerreiros; tornaram-se impassíveis pela austeridade do tempo. Consternados por uma angústia latente, mas a desmentiam com seus olhos resolutos e intrépidos. Nobreza dos combatentes; não temem o adversário e nem possuem o medo do fracasso
Dois boxeadores no ringue, dois heróis tipicamente brasileiros. Falcões que mostram suas garras frente à presa. Expressam sua dor, exprimem mudamente tudo aquilo que pode dizer a pupila humana. Aprenderam a lidar com as derrotas, e também a serem vencedores.
O Boxe é como a vida; a cada instante sofremos nocautes ou perdemos rounds, mas nunca paramos de lutar. Luvas tão gastas, extenuados de suor... Porejam sangue. Sem cessar, continuam a boxear.
Desferem jabs, diretos, cruzados, ganchos... Caem na lona, erguem-se pela coragem. Soa o gongo! Essa hora, feita de minutos de alegria e pranto. Atletas ligados pelos laços sanguíneos, combatentes valorosos que não sucumbiram aos golpes da fortuna. Igualaram Servílio, suplantaram as adversidades e na história irão permanecer. Enfim apanharam a verdade e a felicidade. Eis aqui em vossas mãos, essas duas esquivas.
Menção honrosa para Adriana Araújo, primeira mulher a ganhar medalha no Boxe olímpico.

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