quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma cidade dentro da capital

Por: Ericleiton dos Anjos


Completando 30 anos de existência, o conjunto Cidade Satélite é considerado um dos maiores conjuntos habitacionais da América.


Avenida dos Xavantes , a principal via de acesso ao conjunto Foto: Ericleiton Dos Anjos 

           Em 1983, nascia o conjunto residencial Cidade Satélite, com três etapas construídas, totalizando um número de 3.545 residências e sendo considerado o maior conjunto erguido da América Latina. O Conjunto foi projetado pelo arquiteto pernambucano Acácio Borsoi, a Cidade Satélite vem adquirindo maior destaque no cenário local, devido ao crescimento veloz da construção civil na região metropolitana. Apesar da comemoração já iniciada, o aniversário oficial das três décadas do conjunto será em 2013.

   As origens do conjunto Cidade Satélite
            Pouco se tem de história registrada sobre os bairros de Natal, porém, em Maio de 2010 , a prefeitura da cidade lançou um livro documentário, intitulado “Memória Minha Comunidade, Cidade Satélite ”de autoria do projeto de mesmo nome, este foi o primeiro exemplar de uma série de livros falando sobre as comunidades da capital potiguar.
           Segundo relato do livro, as antigas datas sesmarias de 1706, relatando de terras cujo os nomes eram “Gorapes” (Guarapes), “Carnaubinhas” e “Potumbu” (Pitimbu) de localizada no chamado Vale do Pitimbu, que depois passaria a ser propriedade de Antonio de Araújo e Souza durante o período colonial (o pedido de doação foi feito diretamente ao rei da época, Pedro II), seria o local onde hoje se encontra o conjunto  Cidade Satélite. Durante longos anos as terras passam de mão em mão (mais detalhes no livro) até chegarem aos domínios dos irmãos Machados, Claudio e Manuel, ambos portugueses, em 1920. A valorização da região ocorreu no momento que o francês Paul Vachet chegou a Natal em busca de um local para pousar aviões de uma companhia, sendo escolhida a área dentro das terras da família Machado e onde surgiu o campo de pouso de Parnarmirim.
           Projetada em 1976 pelo arquiteto Acácio Gil Borsoi , a Cidade satélite Foi entregue ao INOCOOP (Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais) no governo José Agripino Maia (1982-1986) como conjunto habitacional de classe média.  Localizado no bairro do Pitimbu,foi dividido em três etapas. Na Etapa I, as ruas recebem nomes de serras brasileiras e pássaros (foi entregue no ano de 1982 com 1666 residências). Na Etapa II, as ruas recebem nomes de rios (entregue em 1983 com 724 casas). Na Etapa III, as ruas recebem nomes de árvores brasileiras (também entregue em 1983 com 1155 casas). O nome Cidade Satélite foi dado por Rosário Porpino, superintendente do Inocoop. Em uma entrevista na imprensa de Natal ela conta que iria construir uma “cidade satélite” modelo, mas a imprensa achou que fosse o nome do conjunto e daí foi batizada. A maioria dos mutuários era de funcionários públicos que haviam se inscrito na cooperativa e foram sorteados para os vários tipos de casas oferecidas. As prestações eram pagas por meio de carnês todos os meses. Segundo relatos de moradores, o processo era longo e minucioso, visto que o financiamento duraria 25 anos e as prestações não estavam ao alcance de todos. Nas primeiras décadas o conjunto recebeu o apelido de “dormitório’’ porque muitos moradores apenas dormiam lá, em virtude da distância do centro ubarno.
Fonte: Memória Minha Comunidade, edição nª 1.

  O desenvolvimento tardio e a aproximação da capital
           A distância do centro e de outras importantes localidades da cidade de Natal fez com que o desenvolvimento do Pitimbu fosse praticamente nulo até os primeiros anos do século XXI. Os moradores dos demais bairros da cidade achavam a região do conjunto Cidade Satélite muito distante. Reclamava-se também da infraestrutura de comércios e serviços, algo que era praticamente inexistente no local até bem pouco tempo. Morar no bairro era o mesmo que se isolar da realidade da cidade, trazendo lembranças das típicas cidades do interior.


Avenida Prudente de Moraes , via responsável por liga o Bairro do Pitimbu ao Natal Foto Ericleiton Dos Anjos 

          Para melhorar o acesso ao conjunto, na década de 90, foi construído um trecho que liga a Integração (no bairro Candelária) e Avenida dos Xavantes (no bairro Pitimbu), sendo esta, uma extensão da Avenida Prudente de Morais. Esta parte da pista recebeu o nome de prefeito Omar O'Grady, em homenagem ao ex-chefe do executivo municipal nos anos de  1924 a 1930. O prolongamento desta linha é a única obra de mobilidade urbana que já saiu do papel em Natal visando a copa de 2014. Segundo Anízio Lúcio, presidente da AMOCISA (Associação de Moradores do Conjunto Habitacional Cidade Satélite) o prolongamento da Prudente de Morais é uma obra que irá beneficiar não só o Satélite, mas como também toda cidade do Natal, e que o simples fato ter sua extensão passando pelo Pitimbu mudou a história do conjunto. “Abriu espaço para a valorização, antes se pagava para morar aqui, hoje recebemos proposto por cada metro quadrado” – Afirma o presidente. Anízio ainda chamou atenção para o desenvolvimento do local como um todo, “a Cidade Satélite deixou de ser um dormitório, hoje se trabalha e vive aqui, pois as pessoas passaram a conviver de verdade no conjunto”. Segundo ele, hoje o bairro oferece todos os recursos que as outras regiões de Natal têm para disponibilizar. “Daqui a pouco seremos igual à Candelária”, brincou o presidente da AMOCISA, que ainda alertou “com o crescimento e desenvolvimento da cidade Satélite, também cresceu os problemas, como a criminalidade na região, preço pago por quem quer crescer hoje em dia, afinal nenhuma cidade do Brasil ou do mundo está livre dessa realidade”. Ele afirmou que acabou aquele velho paradigma de que o Conjunto habitacional parecia não pertencer a capital, “hoje somos ligados a Natal através de importantes avenidas e também do cotidiano. O que tem lá, tem aqui. O crescimento da cidade passa por aqui”. Segundo dados do  Censo 2000 a população do bairro é composta por aproximadamente  46,51% homens e 53,49% de mulheres, predominantemente de jovens e adultos jovens [25-40 anos]. 99,25% da população vivem em casas os 0,75 restantes moram em apartamentos (0,30%), cômodos (0,32%) e residências improvisadas ou coletivas (0,13%). A média de moradores por domicílio é de 4.04 pessoas. 85% dos responsáveis por domicílios possuem mais de oito anos de educação a maioria possuem entre 11 e 14 anos de instrução. A taxa de alfabetização está em 95,68%.

Um caso de amor construído há 30 anos

         Entrevista com o jornalista  Rosinaldo Vieira  Lima, um dos fundadores do Conjunto Cidade Satélite e idealizador do Jornal consenso Comunitário (periódico que circulou no conjunto entre julho de  1993 á outubro de 1997). Rosinaldo também é diretor de comunicação da AMOCISA .  



                             Rosinaldo Vieira por Rosinaldo 

    Meu nome é Rosinaldo Vieira Lima. Sou natural da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, nascido em 7 de abril de 1970, portanto com 42 anos de idade.
Sempre em toda a minha vida o jornalismo esteve presente e esta sempre foi e sempre será a minha área de atuação profissional.
Depois de concluir os estudos sempre em escolas públicas como Felizardo Moura (Quintas), onde fiz o primário, Escola Técnica de Comércio (Ribeira) e Djalma Aranha Marinho (Cidade Satélite), onde fiz do quinto ao oitavo ano e na Escola Winston Churchill, onde fiz no primeiro ao terceiro ano do segundo grau, passei para o vestibular de jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde estudei de 1991 a 1995.
Como profissional de jornalismo atuei  nas editorias de polícia e cidades no Diário de Natal, de polícia, cidades e cultural no JH Primeira Edição. Também escrevia as entrevistas especiais do Jm dos cornal Podium, do colunista social Toinho Silveira, além de ter sido o assessor de imprensa do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI - RN) e da Associação de Moradores da Cidade Satélite (AMOCISA)
Também fui um dos fundadores do Jornal Consenso Comunitário, que circulou no bairro Pitimbu, do Jornal O Extremoz, da cidade de Extremoz - RN, do site www.fuzuern.com.br, que divulga a programação cultural e esportiva do Rio Grande do Norte, da Revista Vitrine, do Jornal da Amocisa e atualmente trabalho na assessoria de imprensa da Prefeitura do Natal.
Atualmente moro na terceira etapa do conjunto habitacional Cidade Satélite,no bairro Pitimbu, há 30 anos, sendo um dos fundadores desta comunidade.



 Revista Plural - Gostaria de saber quanto tempo você tem de Satélite, e que momentos foram marcantes nessa trajetória de vida lá?
        Moro na Cidade Satélite há 30 anos. Sou um dos fundadores da comunidade. Um dos momentos mais marcantes que tive a oportunidade de viver aqui foi quando produzi na Cidade Satélite o jornal Consenso Comunitário, que era distribuído gratuitamente de casa em casa. Também participei por quatro anos de um grupo de jovens da Igreja católica de São Francisco de Assis e também colaborei na fundação do Movimento Pró-Pitimbu, formado por vários moradores da Cidade Satélite, que lutavam pela defesa do Rio Pitimbu, que atravessa a Cidade Satélite e segue até a lagoa do Jiqui, onde de lá é distribuído para o abastecimento de água de cerca de 30% da população de Natal.
Revista Plural - Sobre os primeiros anos do Conjunto, de onde veio a escolha do nome Satélite? Sobre os critérios para a nomeação das ruas, porque usar Rios, Serras, Pássaros e Árvores, ao invés dos tradicionais nomes de políticos?
        O nome da Cidade Satélite foi dado por Rosário Porpino, superintendente do Inocoop, empresa responsável pela venda e construção do conjunto à época de sua construção. Em uma entrevista na imprensa de Natal ela disse que iria construir uma cidade satélite, modelo, mas a imprensa achou que fosse o nome do conjunto e daí pegou e ficou Cidade Satélite. Os nomes das ruas como rios, árvores, serras e pássaros foram escolhidos pela Rosário Porpino, que pesquisou em livros e em viagens que fez na Amazônia.
Jornal Plural- Sobre o desenvolvimento do Conjunto, por que a Cidade Satélite é considerada uma cidade dentro de outra? Aquela mística de que quem for morar aí vai viver isolado do resto do mundo, mudou?
         De certa forma não, pois a Cidade Satélite cresceu muito nos últimos 30 anos, não em tamanho, mas em estrutura de comércios, condomínios de casas e de prédios residenciais. Mas ainda continua sendo considerado um conjunto dormitório em que as pessoas saem de manhã para trabalhar, passam o dia fora e só voltam à noite para dormir.
Rosinaldo Vieira Lima ao ler o livro Memória minha Comunidade Foto: Ericleiton dos Anjos 
Jornal Plural- Que importância teve a Avenida Prudente de Morais para esse desenvolvimento, já que ela liga o Satélite com o bairro nobre da Candelária .
         Foi muito importante para comunidade, pois estreitou caminhos entre a Cidade Satélite e os demais locais de Natal, pois antes desta obra se tinha que fazer uma volta grande pela BR 101 e agora com o prolongamento da Prudente de Morais se vai direto.
Jornal Plural- O prolongamento da Prudente (omar o'grady) é a única obra de mobilidade urbana que já saiu do papel. O que essa obra vai representar para a comunidade e para o resto de Natal?
        Da mesma forma que ocorreu com a primeira fase do prolongamento da Prudente de Morais, que se estendeu até seu entroncamento com a avenida dos Xavantes, na Cidade Satélite. Desta vez, a segunda etapa da obra se estenderá até o BR 101, próximo a entrada para o Aeroporto Internacional Augusto Severo e, como da primeira vez, também vai encurtar distâncias entre Natal e Parnamirim.


Crônica – Uma cidade em harmonia com a natureza
Por: Otávio Camilo          

           Era um fim de tarde maravilhoso, de um céu tranquilo e estrelado. A brisa fagueira, vinda dos pequenos montes, batia leve em meu rosto e entrava nos meus ouvidos como uma música macia; cantavam alegres os seres alados. O solo era carregado de cheiros que pareciam de um imenso jardim que era a terra inteira. Meus olhos luziam de regozijo, como uma árvore seca que reverdece com as primeiras chuvas de inverno. Uma onda de ternura envolveu-me naquele momento. Enfim encontrei ocasião para te conceder uma homenagem. Chegaste aos trinta. Sempre pareceram tão distantes, e agora inseridos em ti. Mas quem sou eu para descrevê-lo? Permitirei que te apresente...
          Sou um bairro admirável e considerado o maior conjunto habitacional de um continente. Concebido por mãos graciosas e pela criação divina. Airoso, colossal e acolhedor. As minhas ruas guardam horas, dias e sonhos. Fui crescendo depressa, analogamente ao devaneio que se confunde com a realidade. Os moradores vinham de qualquer lugar; davam vida as minhas veredas. Construíram fantasias, edificaram desejos e em meus domínios ergueram suas casas para morar. Um mundo inteiro situado no coração de uma reles província.
          As minhas ruas são contempladas pelo afável aroma da natureza. Caem flores, desabrochando. Os pássaros voam livres sobre as plantas; gorjeiam felizes em direção ao crepúsculo. As árvores são as fontes da vida; estão fincadas nos prédios, lares e canteiros. De suas folhas brotam o mais puro ar, sombras que acomodam na alvorada e doces frutos que nascem nos galhos despidos do outono. A fauna e a flora, em mim, são eternas como as pedras cravadas no chão.
         Pelas adjacências da minha relva, um portentoso rio nasce sereno, manso e cristalino. Elevou-se forte, valente e robusto. Atravessa com garbo todos os logradouros e alamedas do meu vasto território. Seu leito é perene e sossegado. A neblina chega de mansinho e os dias ensolarados aquecem o seu curso. Transborda o meu Pitimbu.
No horizonte, cercam-me as imponentes serras, de onde eu posso contemplar o pôr do sol. Singelos versos são guardados por aquelas imagens. Delas podemos medir as estrelas, apreciar de perto o formoso astro que rege as marés e fitar as águas torrenciais quando são apenas fontes. Dos terrenos acidentados é que surge a minha quietude. As vozes humanas acometem o meu silêncio, deslizam como o vento e são recitadas como poesia sob a luz do firmamento.
Me desenvolvi de repente e o meu futuro começou a mudar. Observem que hoje sou diferente de qualquer outro bairro de Natal. Sou a terra da humildade e dos privilegiados. Possuo hospitais municipais, centros de ensino e avenidas suntuosas. Da Abreu e Lima aos Caiapós, da Xavantes ao Planalto... Tudo em mim é majestoso.
Sou especial e único, sem as pessoas, porém, eu não seria ninguém; um jardim florido sem alma. Acomodo todas as raças e credos, ricos e pobres, bons e maus; pois essa é a minha vocação. O meu nome jamais será esquecido. Para quem não me conhece, permitam-me as formalidades da apresentação: muito prazer, eu sou a Cidade Satélite. Trinta anos! Que venham mais!









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