Os Jogos de Londres 2012, definitivamente,
entraram para a história do esporte paralímpico brasileiro. Com 21 medalhas de
ouro conquistadas, o país teve a sua edição de Jogos mais vitoriosa de todos os
tempos. Se em termos quantitativos a campanha em Londres ficou abaixo de Pequim
2008, com 43 pódios contra 47, em termos qualitativos os 21 ouros ficaram bem
acima dos 16 de quatro anos atrás. O destaque da semana final do evento
ficou por conta de duas representantes do atletismo, Terezinha Guilhermina e
Shirlene Coelho.
Superação;
palavra sempre tão reiterada e vulgarizada quando o assunto é Paralimpíada. Virou
uma espécie de mantra nas vozes do público e de vários veículos de imprensa, aqueles mesmos que nunca deram a mínima para alguns desses verdadeiros abnegados, que
apenas lutam dignamente a fim de sobrepujar os escárnios da natureza. A hipocrisia
é paciente e sistemática. Recuso-me a falar dela. Falarei do sexo forte...
Certa
vez, Gandhi ressaltou a superioridade da força mental em relação à brutalidade.
Seria uma calúnia o homem se referir à mulher como sendo o sexo frágil, tendo
em vista a primazia mental a qual elas possuem. Voltaire afirmou que o
sentimento de um espírito feminino é infinitamente maior a todos os raciocínios
masculinos. Emoções de uma psique graciosa. Dois grandes gênios da história da
humanidade não poderiam estar enganados. Contudo, o preconceito contra as
mulheres existe desde épocas imemoriais. Até as mais intrépidas são vitimas
desse vil costume. Atualmente, devido a sua emancipação, o universo feminino
vem conseguindo um espaço mais abrangente na maioria dos segmentos sociais. Finalmente
o machismo sucumbiu perante a ternura. O esporte acompanha essa evolução, e mãos
delicadas ganham notabilidade em meio à rudeza e sisudez.
Somos tão tolos! Como podemos
discriminar as geradoras da vida? Seus ventres são o berço da nossa existência.
A maravilha da perpetuação da espécie se converte entre suas entranhas. Exaltemos
almas corajosas...
Duas mulheres, duas práticas
distintas e um objetivo análogo: a glória sobre o infortúnio. Shirlene e
Terezinha são como amazonas; cavalgam esplendidamente em busca dos triunfos. Mulheres
que combatem as intempéries da vida. Vencem batalhas somente com a força do coração.
Superam obstáculos impossíveis. Embora sofram, escondam as lástimas, suas
desgraças, são capazes de provocar o regozijo até dos mais insensíveis. Louvemos
essas guerreiras valorosas...
Ah Shirlene, atiraste um dardo que,
para você, jamais representou um fardo. Seu lançamento sobrevoou o céu por
dentro das nuvens negras e nebulosas da incompreensão. 39 metros ele alcançou,
mas poderia ir muito adiante. Não pode haver peso nas asas da bravura.
Terezinha foi mais, foi além! Mergulhada
na dor de sua treva sem fim, ela conseguiu encontrar confiança naquele mar
revolto de pranto e agonia. Não foi contemplada com a dádiva da visão, seus
sonhos, porém, são como imensos raios de luz que cintilam no obscurecer dos
seus olhos.
O
brilho dourado que resplandeceu no peito de ambas significa um feito
transcendente ao de uma mera conquista esportiva, ela simboliza uma vitória
contra um destino maculado e todo o formalismo cruel de uma sociedade.
Mulheres, desportistas, deficientes... Nada nesse mundo pode ser tão óbvio
quanto às reles opiniões dos insensatos. Não existe nada que possa enevoar a
luz de uma alma vilipendiada. Não há distancias inalcançáveis para uma andeja
da esperança.
Mulheres
valentes, portadoras de sentimentos nobres e sublimes. Transformaram uma
floresta devastada no mais belo campo florido. São as mais bonitas rosas de um
jardim. Fizeram das adversidades um roteiro de cinema. Foram personagens de uma
peça teatral; artistas de um palco melancólico. Versos épicos de Homero,
romances machadianos. Uma típica tragédia Shakesperiana. Termina aqui uma epopéia
de tristeza. Lembrai-vos dessas heroínas.
Por: Otávio Camilo
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