sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A ascensão do UFC e a nobre arte do ser humano.


                  O UFC tornou-se hábito entre os brasileiros, e cabe a mim, humilde jornalista, a nobre e áspera função de decifrar o despropósito. Os heróis da nação não são mais aqueles dos campos ou das quadras. Eles sucumbiram perante a obviedade da natureza humana. Anderson Silva, Vitor Belfort, José Aldo, Minotauro, Junior Cigano... E por aí vai. Vede os novos ídolos da massa. Mas por que a luta nos causa tamanha comoção? A resposta encontra-se no recôndito da nossa alma.
                Amável formalidade! Se a dor adormece, e a consciência se acomoda, a quem, senão a ti, devemos esse imenso beneficio? Orelha rígida e meiga companheira da sociedade, tu és, sim, o bordão da vida, o bálsamo dos corações. Devido a essa aprazível hipocrisia, o homem contemporâneo foi privado de sua maior dádiva. Fomos criados e talhados para uma única finalidade. Eis aqui a genuína e direta inspiração do céu: a arte da guerra.
                Grandes filósofos referiram-se a ela como sendo o flagelo da humanidade. Seria essa uma verdade incontestável? É claro que não! Nada em sua essência nos é estranho. É o nosso princípio, o mais básico dos instintos. Lutamos contra as intempéries casuais do destino desde épocas imemoriais. E, a partir de lá, não cessamos em nenhum momento.
                Viajamos por entre os limites de um tempo calamitoso. Rompemos barreiras funestas. Atalhamos caminhos obscurecidos pelas trevas da violência desmedida, e chegamos até o epicentro da sandice; o império da loucura e do sofrimento: Roma. Contemptores dos seres e berço dos desafios cruciantes.
                Os aplausos mórbidos da plebe e dos patrícios nunca soaram tão vivos em nossos tímpanos. A morte e a brutalidade refletem em olhos angustiados como a um espelho perdido de outras eras. Mata, mata, mata! De acordo com os mandamentos de uma falsa convenção, tais palavras jamais poderiam ser proferidas. Mas que vontade a nossa! Nada no mundo poderá agradar mais aos nossos instintos do que a contemplação sobre um corpo mergulhado em sangue. Ave ao sadismo!
                Muralhas suntuosas de um imenso devaneio e o seu símbolo de ostentação. Uma ode ao cipreste. 50 mil pupilas alienadas e lânguidas a te fitar num palco melancólico. Se analisarmos de maneira sensata, obteremos uma lisonjeira evidência: o duelo trágico-cômico, nova paixão nacional, exala os mesmos prazeres soturnos da cidade eterna. Saudados por diferentes povos. A cada combate os guerreiros buscam a sobrevivência, a fama, o reconhecimento dos nobres... Os louros da sorte. Escravos nessa vida e na outra. Tentam apenas esquivar-se da morte.
                O Coliseu de outrora possui agora oito lados. A areia sumiu assim como a poeira se perde entre as ruínas e as frechas temporais. O gládio, a lança, a armadura... Tudo se foi através do cavo abismo da antiguidade. Hoje usam somente luvas. As feras acossadas são simplesmente homens. As testemunhas ominosas são as mesmas, e o imperador fez-se midiático. Pouco importa as armas e a localidade, o objetivo da batalha nunca mudará.  
                Certa vez Platão ousou aviltar o amor ao compará-lo com um distúrbio mental. A mais grave das moléstias. Uma simples percepção equivocada da realidade; a consolação dos delírios. Guerra e paz são antagônicas desde o surgimento da nossa espécie. São unidas com esmero apenas em poemas, fábulas, ou uma obra romântica, tal qual a de Tolstói. Mas ele estava enganado. Não são as flores cheirosas das virtudes que nos despertam o regozijo. O manjar do espírito, o nosso oficio mais básico está no combate. O prazer bélico acima de qualquer coisa.
                A verdade é que nem nas trágicas arenas de antanho os leões e as vítimas eram de tamanha tolice. Ao contrário dos espetáculos sangrentos de outrora, onde o público e os gladiadores eram compelidos ao infortúnio, somos ineptos por livre e espontânea vontade. O pão e circo da mídia. É possível que em um futuro próximo o óbito de um lutador não seja meramente uma figura de linguagem. A doce poesia se converterá na aflição da veracidade. Os espectadores, estupefatos, sequer perceberão que podem acabar ali, no ringue, carregando a sua própria estupidez, ou a dos outros. Gladiadores do terceiro milênio, eu não os saúdo.

POR: Otávio Camilo

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Um comentário:

  1. Igor Santos - igor_linkinp@hotmail.com14 de setembro de 2012 às 18:32

    Ainda bem que exitem as divergências de opnião.
    Não vejo com bons olhos a comparação entre o MMA, mas precisamente o UFC, com a época romana e as batalhas no coliseu, essa comparação é totalmente publicitária feita para "gado", "gado" esse que já existia nos tempos dos reais gladiadores, existe hoje e sempre existirá, tanto é que a expressão gladiadores do terceiro milênio apenas surgiu, no território nacional, com a entrada da glob0 (e não de seu subsidiário canal fechado, COMBATE) que por sinal vende muito mal seu mais recente produto. A citada emissora sim pode ser acusada de alienar (os alienados) com sua programação pobre e tendeciosa. O UFC é apenas uma evolução do MMA, que já foi bem mais violento, vide IVC realizado no brasil a cerca de 20 anos, e até mesmo do PRIDE (anos final dos anos 90 até 2006). O UFC é apenas um produto muito bem vendido, não pela rede globo que não sabe explorar sua capacidade, mas sim pelo marketing de Dana White, vale lembrar que o UFC quase faliu antes da final do TUF 1 entre Stephan Bonnar e Forest Griffin, o combate sempre foi o mesmo a sua venda é que se tornou distinta. No mais, parabenizo meu amigo Otávio por sua ótima redação, marca constante de seus artigos.
    "O principal objetivo da guerra é a paz." (Sun Tzu, A Arte da Guerra)

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