segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um verdadeiro herói


              O nadador brasileiro Daniel Dias conquistou nesta semana a vitória nos 50 metros livre da categoria S5, batendo o recorde mundial, e conseguiu sua décima medalha em Jogos Paralímpicos, após as nove obtidas em Pequim (quatro ouros, quatro pratas e um bronze). Essa foi à primeira medalha dourada para o Brasil na competição.
A Filosofia é a busca incessante pela sapiência. Vivemos sob suas regras mesmo sem perceber. Em sua essência, ela prega a amizade e o amor fraternal entre os indivíduos. Como ela poderia, porém, ser aplicada nessa existência tracejada pelo mais hediondo vício humano, a hipocrisia?
O ser humano e sua eterna luta contra o destino. E que palavra é essa? Invade os nossos ouvidos tal qual uma bela música, tão tenra e doce, mas nos abala como o poder furioso de um vendaval. Força arbitrária da natureza; cruel, minuciosa e impositiva. Pobre de nós! Quem seria capaz de enfrentar um inimigo que está além dos sentidos ou da mera compreensão? Por onde andarás agora, grande procurador dos negócios humanos? Talvez em Londres...
A pior de todas as filosofias é a do lastimoso; deita-se à margem do rio para fim de deplorar o curso ininterrupto das águas. O oficio delas é nunca parar; acomodemo-nos com as leis da vida, e tratemos de aproveitá-las. A verdade do universo escorre por cada letra, por cada palavra dessa frase, mas ela não se aplica aos heróis. Falemos de um deles...     
Dizem por aí que os cegos reais são os egoístas, pois só vêem seus próprios problemas. Os piores surdos são os que não podem ouvir os sons das suas emoções. A deficiência de fato é a que se posta passiva perante os golpes da fortuna. Diria que o pior dos males é a miséria da alma. Essa jamais alcançou um certo Daniel.
Um olhar sincero, um coração grandioso e a obstinação de um guerreiro. O que mais seria necessário para a glória de um vencedor? Falta-lhe as mãos, sobram os sonhos. Não possui uma das pernas, mas nada como um peixe. Por vezes a lágrima derramou pela secura dos seus olhos, o sorriso, porém, seria seu maior consolo. O destino tirou-lhe tudo, menos a coragem.
50, 100, 200 metros... As distancias inexistem para o andarilho das esperanças. Flutua, voa... Borboleta das piscinas. Não há peso nas asas da ambição. Em teu peito brilha a luz do alento, depois de tanto sofrimento. És como uma flor, uma fina seda; tornas-te magnífica uma existência maculada. Júbilo e pranto: eis o seu mundo épico-lírico.
Ah, Daniel, mergulhas-te no mar eterno para de lá arrancar a verdade. Um salto para purgar o espírito de melancolia que o afligia. Em teu semblante, resplandecia a placidez respingada de alegria. Alguns sentimentos murcham, outros florescem. A tristeza intrínseca que o minava não foi obstáculo frente à presteza de suas braçadas. Quão profundas são as molas da vida!
O teu sorriso é o esplendor dos incompreendidos, dos abnegados. O regozijo de um sobrevivente da mais tenaz das batalhas: a luta do homem contra ele mesmo. Enfim o choro fez-se contentamento, mas as lágrimas que caíram formaram um imenso rio, onde afunda a nossa vil intolerância. Ventilai as consciências!
Não vivemos no império romano, aquele mesmo devaneio de outrora. Não separamos as pessoas diferentes do nosso convívio, jogando-as num vale esquecido. Segregamos todos eles através do nosso preconceito velado. Voltemos milhares de anos no tempo e veremos que nossos instintos não mudaram tanto. Não admitimos as diferenças, pelo contrário, as atacamos com a selvageria que nos é digna. Permanecemos como homo sapiens.   


Por: Otavio Camilo  

2 comentários:

  1. São heróis porque são esquecidos após as olimpíadas, são esquecidos pela mídia, pela nação, pelos patrocinadores e continuam mesmo assim vencendo não somente seus obstáculos no esporte mais também vencendo os desafios perante uma sociedade preconceituosa e hipócrita.

    Não perdoamos nem pedimos desculpas por orgulho, não somos amáveis com nossos entes queridos por vergonha, somos falsos para não magoar o próximo com a verdade, não lutamos contra nossas dificuldades por preguiça, nunca estamos satisfeitos, vivemos por aparência nos preocupando com o que os outros pensam de nós, vivemos reclamando e não fazemos nada para mudar nossa realidade social e política. Quem são os verdadeiros deficientes?

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