O CRAQUE E O TANGO

 A melancolia é intrínseca ao ser humano. Alguns são felizes com ela, outros inexistem sem ela. Sentimento nefasto para a maioria de nós, modo de vida para alguns poucos. Característica de um estilo e de um jogador que marcou época. Riquelme e o Tango, perfeita união.

 Quanta tristeza e amargura te afogam, Riquelme. Jogador inspirado pelo primor de sua habilidade e vitimado pela lástima do seu ser. Surgiu como um dos novos postulantes a Maradona, mas nunca foi além dele mesmo. Complexo e virtuoso, assim como a música que envolve toda uma nação. A bola e o Tango.

Gênio da contradição e do contraste. Joga futebol como poucos, sua qualidade, porém, não condiz com a melancolia de seu olhar. Alegria e tristeza num só. Carrancudo e imagem do sofrimento como uma letra de Alfredo le Pera.

Craque dos gramados, talento macambúzio. O futebol é a sua proposição, mas o Tango é o seu espírito. Quem somos nós para nos separarmos de nossa essência? O Riquelme é apenas fiel aos seus instintos.

Riquelme inebria e contagia tal qual um belo Tango. Ídolo e referência vitoriosa para a maior torcida de seu país. Entretanto, mesmo coberto de glórias, transformava a aparente felicidade em uma inimiga ferrenha de sua alma angustiada.

A solidão é o seu refúgio. Riquelme é daquelas pessoas que tem seus pensamentos como melhores amigos. Artista solitário! Mesmo rodeado de companheiros e aclamado por multidões, permanece eternamente prisioneiro de si mesmo.

No Boca Juniors, foi príncipe, foi rei e tornou-se mito. Contudo, devido a sua intrigante personalidade, sua qualidade jamais ultrapassou as fronteiras da Argentina. Fracasso no Barcelona e destaque em um Villarreal qualquer. Uma verdadeira ode ao nada! Assim como o compasso binário e a síncope do Tango, a parceira desse jogador sempre foi uma só, a massa embevecida de La Bombonera.

Riquelme é a personificação da identidade e do orgulho de seu povo. Nem Carlos Gardel escolheria um personagem tão adequado para figurar em sua obra. Dramático, apaixonante, vibrante e sempre triste. O homem e o ritmo. O craque e o Tango.  

POR: Otávio Camilo