No último sábado (14), Gustavo
Kuerten entrou para o grupo seleto do Hall da fama do tênis mundial. Com isso,
ele se tornou o segundo brasileiro a conseguir essa façanha. Além dele, Maria
Esther Bueno, detentora de 19 títulos de Grand Slams, já estava na lista.
Moramos em um país que
possui uma das mais ricas histórias esportivas. Por aqui desfilaram príncipes,
reis, e ídolos aos borbotões. Somos cantados em verso e prosa como sendo uma
fábrica de talentos. Nas mais variadas modalidades, demonstramos que essa fama não
é por acaso. No entanto, pagamos um preço alto por nossa própria qualidade,
pois admitimos que viveríamos desse talento, acreditando que gênios nasceriam
como folhas nas árvores. Doce ilusão!
Não é novidade para ninguém que, desde sempre, aceitamos o
monopólio do gol, dos atacantes e das planícies verdes dos gramados. Elegemos o
futebol como nossa religião e, somente a ele, dedicamos a nossa máxima devoção.
Os outros, pobres e desafortunados, tiveram que se contentar em ansiarem o
nascimento dos chamados fenômenos, atletas diferenciados que nascem de geração em
geração independente de bandeira ou tradição. Sobrevivemos desses indivíduos, e
um deles arrancou nossos suspiros com mais intensidade, Gustavo Kuerten.
O Guga foi uma das nossas melhores exceções. Simplicidade e
carisma sempre foram suas armas e proposições. Transformou um esporte que, para
nós, sempre foi próprio de uma elite soberba e tediosa, em algo fantástico.
Gustavo Kuerten, Guga ou messiê Gugá, para os
franceses. Atleta de vários nomes, mas genial em todos eles. Ídolo de Floripa à
Torre Eiffel. Aclamado por platéias parisienses, esquecido, porém, por nós
brasileiros. Pobre de nós! Negamos nossos heróis como a poeira se perde no
tempo.
Apareceu aos nossos olhos como um típico fenômeno. Não poderia
ter escolhido melhor cenário para realizar seus feitos, a bela Paris. Terra de
monumentos eternizados que simbolizam o orgulho. Cultura da complexidade, das ostentações,
revoluções, e daqueles que lutam pelos seus ideais. Guga surgira como uma
homenagem aos nossos sentidos. A junção perfeita do homem com o espírito da
cidade. Guerreiro e artista num só!
Confundiu-se com a terra batida do saibro de Rolan Garros, e por
lá se tornou rei. Em 1997, nos brindou com uma verdadeira ode ao inesperado. O
Arco do Triunfo foi fiel testemunha do
seu talento. Dentro da quadra travou batalhas épicas, desafiou gigantes, e um
deles se tornou. Da surpresa fez-se a glória. E, um coração desenhado foi à
aliança de um amor eterno. Jamais veremos outro Guga!
No embalo do tênis, Junta-se a força e a mente com a vida. Guga era daqueles que transformavam
obstáculos em elementos de inspiração. Fez da sua raquete uma arma de combate,
e derrotou seus adversários com a força e a pureza do seu coração
Aposentou-se
cedo, torturado por dores no quadril. Deixou as quadras e abandonou milhares de
órfãos. Artista solitário, regente de multidões. Bolinha pra cá, bolinha pra
lá. A batida da bola amarela cessou e na história ele adentrou. Grandes ídolos são
eternos!
Com um olhar sincero e um coração grandioso, Guga sobrepujou
todas as intempéries do destino. Nasceu gênio em um país que desonra os
virtuosos. Foi herói, onde estes são maltratados. Foi vitima da casualidade e
de cartolas descompromissados, mas foi glorificado na eternidade dedicada aos
mitos. Aplausos ao rei do saibro e dos abnegados. Aplausos para Gustavo
Kuerten!
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