Depois de uma passagem conturbada pelo
Corinthians, Adriano assinou contrato por produtividade com o Flamengo até
o final do ano e foi apresentado nesta quarta-feira. O atacante jogará com a
camisa 10 que o consagrou.
Eis aqui a verdade eterna,
anterior aos mundos e posterior aos séculos. Não podemos viver sem ela, e como poderíamos
nos separar de nossa mais fiel característica: a arte da incompreensão. Julgamos,
acusamos; olhos agudos e judiciais da opinião a nos fitar a cada gesto, a cada
atitude. Falemos de um incompreendido...
Tentamos arrancar as flores dos pântanos, mas não entendemos
o porquê delas estarem ali. O Adriano é um espelho das contradições e das
lástimas da vida, um reflexo do paradoxo e da esperança. Em seus olhos resplandece
a ladeira fatal da melancolia. Por fora, vemos um atleta bem sucedido, digno de
louros e alcunhas aristocráticas. Por dentro, reside a alma de um menino confuso que ainda chora a perda do pai. Que existência cruel a que
compartilhamos; elegemos reis, príncipes e imperadores. Adoradores da frivolidade!
Não somos nem capazes de entender a nossa natureza. Ave Cezar...
Ah Adriano, nenhuma outra alcunha no mundo pode ser tão digna
como a tua. És um típico imperador romano; banha-se num mar de orgias e depravações.
Nunca fizestes bailes de mascaras, festas nos salões palacianos; talvez nunca
tenha experimentado o manjar dos deuses, tua vida, porém, é regada pela dose da
libertinagem.
A opulência dos templos nunca te encantou, pelo contrário, a
honra da tua ostentação sempre foi entre os seus, o morro da Vila Cruzeiro. Pobre
Adriano; grande Adriano!
Como é triste a sina de um imperador; ainda mais para um que
nasceu na plebe, e para lá sonha voltar. Diferentemente do seu homônimo e
antecessor, não construístes um panteão suntuoso; no máximo foi arquiteto de
uma aprazível lage, onde confraterniza com seus pares. Nunca cultuou Venus,
Marte ou qualquer outra divindade; seus deuses sempre foram os seus próprios
instintos.
Sob as luzes do teu palacete verde, não eram necessárias hordas
ou legiões de guerreiros para impor sua autoridade; ela vinha dos gols e de seu
enorme carisma. Seu porte majestoso despertava o medo até dos mais intrépidos
de seus adversários. Era um colosso perante os ínfimos.
Foi um imperador andarilho; andastes por várias províncias do
seu suposto império, e como bom comandante que se preze, recebestes todas as
honras dos seus súditos. A mais saudosa entre elas te acolheria com
orgulho...
No ocaso do seu reinado, enfim voltou para onde nunca deixou
de ser amado. Retornou nos braços calorosos dos pajens e dos vassalos. A Gávea
é tua Roma, tua Constantinopla. A tristeza profunda que maculava um antigo
herói agora se fez alegria. Viva o pão e circo do Flamengo.
Chega de
sandices, falemos da realidade...
Como é doce a poesia; que perfeição teríamos num mundo regido
pelo comedimento de louvor dos poetas. Contudo, a realidade não se resume as
linhas, versos ou devaneios; ela é dura e pouco gloriosa. O fato é que uma
favela nunca se converterá na resplandecência de um palácio; um garoto que nasce
no morro dificilmente será um notável, e um plebeu jamais será um imperador.
Vamos analisar o homem Adriano;
sem fama, fortuna, títulos de nobreza ou qualquer outro rótulo midiático. Estamos
diante de um exemplo claro e personificado dos nossos graves problemas sociais.
Perdemos cada vez mais os nossos jovens para o álcool, para as drogas ou para a
criminalidade, sem que para estes sejam proporcionados os direitos que deveriam
ser básicos para qualquer cidadão. Sejamos mais compreensivos e tentemos
entender a dificuldade daquele menino confuso e que pranteia. Um adulto que
revela em seu semblante a vivacidade pueril que luta para se desassociar de
suas raízes. O império romano é apenas um delírio... Terminemos com ele.
Vou ser simples e objetivo: No caso dele é óbvio de que precisa de tratamento psicológico antes de condicionamento físico, é lógico que isso leva tempo, porém as pressões por parte dos patrocinadores e de outras pessoas envolvidas que não estão nem aí com a sua real melhora querem ver o lucro $ acima de tudo e não o ser humano envolvido.
ResponderExcluirBelo Comentário!!!ótima linha de expressão e entendimento...Vejo que o blog, entre outras práticas, está te permitindo uma evolução e um sentido cada vez melhor em seus pensamentos e escritos. Uma coisa que eu aprendi com o futebol é a de que tudo pode mudar...que o que parece ser, pode não ser...que não importa ter um jogo bonito sem a conquista de uma vitória...e que podemos ter fé numa virada ou numa vitória até o ultimo segundo dos acréscimos. Foi assim com o Romário, com o Ronaldo em 2002, com o Pet em 2009 e etc. Termino meu comentário parabenizando a equipe JE e esperando por mais matérias. Abraços!
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