quinta-feira, 23 de agosto de 2012

As contradições de uma sociedade e de um império


             Depois de uma passagem conturbada pelo Corinthians, Adriano assinou contrato por produtividade com o Flamengo até o final do ano e foi apresentado nesta quarta-feira. O atacante jogará com a camisa 10 que o consagrou.

               Eis aqui a verdade eterna, anterior aos mundos e posterior aos séculos. Não podemos viver sem ela, e como poderíamos nos separar de nossa mais fiel característica: a arte da incompreensão. Julgamos, acusamos; olhos agudos e judiciais da opinião a nos fitar a cada gesto, a cada atitude. Falemos de um incompreendido...
Tentamos arrancar as flores dos pântanos, mas não entendemos o porquê delas estarem ali. O Adriano é um espelho das contradições e das lástimas da vida, um reflexo do paradoxo e da esperança. Em seus olhos resplandece a ladeira fatal da melancolia. Por fora, vemos um atleta bem sucedido, digno de louros e alcunhas aristocráticas. Por dentro, reside a alma de um menino confuso que ainda chora a perda do pai. Que existência cruel a que compartilhamos; elegemos reis, príncipes e imperadores. Adoradores da frivolidade! Não somos nem capazes de entender a nossa natureza. Ave Cezar...

Ah Adriano, nenhuma outra alcunha no mundo pode ser tão digna como a tua. És um típico imperador romano; banha-se num mar de orgias e depravações. Nunca fizestes bailes de mascaras, festas nos salões palacianos; talvez nunca tenha experimentado o manjar dos deuses, tua vida, porém, é regada pela dose da libertinagem.  
A opulência dos templos nunca te encantou, pelo contrário, a honra da tua ostentação sempre foi entre os seus, o morro da Vila Cruzeiro. Pobre Adriano; grande Adriano!
Como é triste a sina de um imperador; ainda mais para um que nasceu na plebe, e para lá sonha voltar. Diferentemente do seu homônimo e antecessor, não construístes um panteão suntuoso; no máximo foi arquiteto de uma aprazível lage, onde confraterniza com seus pares. Nunca cultuou Venus, Marte ou qualquer outra divindade; seus deuses sempre foram os seus próprios instintos.
Sob as luzes do teu palacete verde, não eram necessárias hordas ou legiões de guerreiros para impor sua autoridade; ela vinha dos gols e de seu enorme carisma. Seu porte majestoso despertava o medo até dos mais intrépidos de seus adversários. Era um colosso perante os ínfimos.
Foi um imperador andarilho; andastes por várias províncias do seu suposto império, e como bom comandante que se preze, recebestes todas as honras dos seus súditos. A mais saudosa entre elas te acolheria com orgulho...
No ocaso do seu reinado, enfim voltou para onde nunca deixou de ser amado. Retornou nos braços calorosos dos pajens e dos vassalos. A Gávea é tua Roma, tua Constantinopla. A tristeza profunda que maculava um antigo herói agora se fez alegria. Viva o pão e circo do Flamengo.  
Chega de sandices, falemos da realidade...
Como é doce a poesia; que perfeição teríamos num mundo regido pelo comedimento de louvor dos poetas. Contudo, a realidade não se resume as linhas, versos ou devaneios; ela é dura e pouco gloriosa. O fato é que uma favela nunca se converterá na resplandecência de um palácio; um garoto que nasce no morro dificilmente será um notável, e um plebeu jamais será um imperador.
Vamos analisar o homem Adriano; sem fama, fortuna, títulos de nobreza ou qualquer outro rótulo midiático. Estamos diante de um exemplo claro e personificado dos nossos graves problemas sociais. Perdemos cada vez mais os nossos jovens para o álcool, para as drogas ou para a criminalidade, sem que para estes sejam proporcionados os direitos que deveriam ser básicos para qualquer cidadão. Sejamos mais compreensivos e tentemos entender a dificuldade daquele menino confuso e que pranteia. Um adulto que revela em seu semblante a vivacidade pueril que luta para se desassociar de suas raízes. O império romano é apenas um delírio... Terminemos com ele.





2 comentários:

  1. Vou ser simples e objetivo: No caso dele é óbvio de que precisa de tratamento psicológico antes de condicionamento físico, é lógico que isso leva tempo, porém as pressões por parte dos patrocinadores e de outras pessoas envolvidas que não estão nem aí com a sua real melhora querem ver o lucro $ acima de tudo e não o ser humano envolvido.

    ResponderExcluir
  2. Belo Comentário!!!ótima linha de expressão e entendimento...Vejo que o blog, entre outras práticas, está te permitindo uma evolução e um sentido cada vez melhor em seus pensamentos e escritos. Uma coisa que eu aprendi com o futebol é a de que tudo pode mudar...que o que parece ser, pode não ser...que não importa ter um jogo bonito sem a conquista de uma vitória...e que podemos ter fé numa virada ou numa vitória até o ultimo segundo dos acréscimos. Foi assim com o Romário, com o Ronaldo em 2002, com o Pet em 2009 e etc. Termino meu comentário parabenizando a equipe JE e esperando por mais matérias. Abraços!

    ResponderExcluir