Um dos maiores ídolos da história do Botafogo,
o atacante Túlio Maravilha será apresentado pelo clube nesta segunda-feira na
sede de General Severiano. A volta do jogador, de 43 anos, faz parte do projeto
do seu milésimo gol. Pelas contas do jogador, ele tem 993 tentos. A estréia
ainda não foi definida.
Conhecemos
um homem pelo seu sorriso. Sensação que embeleza, que encanta, suaviza. Até mesmo
o mais insensível dos seres já sentiu a alegria derramar de seus olhos
tempestuosos. Vivemos em um mundo de melancolia, no deserto da sisudez insana,
onde o oásis do encantamento se esconde por entre as dunas da incompreensão humana.
E quem de nós seria capaz de encontrar essa terra fértil no meio do nada?
O
sorriso é o manjar que alimenta o espírito; a energia que dá força à vida. Orelhas
grosseiras, corações amargurados; no máximo nos debruçamos sobre um rir filosófico,
aquele mesmo que Machado de Assis descreveu tão bem: uma satisfação duvidosa,
acanhada. Quando deixamos de ser felizes?
No
Futebol, assim como na vida, a alegria foi se pondo como o sol em dia de chuva.
Um desvanecer cruel e minucioso. O capitalismo desenfreado transformou a nossa paixão
em um negócio; nossos heróis converteram-se em máquinas, e até as comemorações
irreverentes foram banidas. O lúdico se fez maçante, e o espalhafato se perdeu
como poeira no tempo. Em meio a soldados robotizados, ainda resiste com bravura
o último dos intrépidos; uma fagulha de romantismo numa luta tenaz contra o
império da tristeza. Eis uma maravilha...
Nunca
houve um jogador como o Túlio. Nos erros e nos acertos; nas alfinetadas e nos
gols de placa, era sempre diferenciado. Polêmico,
falastrão, bravateador... E daí? O que seria dos gramados sem um pouco de
fanfarronice? Era daqueles raros personagens que despertavam o ódio e o fascínio
exatamente na mesma proporção. Fez da grande área o seu reduto, seu feudo. Atacante
frio, matador impiedoso, sua alma, porém, era a de um menino zombeteiro. Era feliz,
porque o mundo para ele não lhe tinha mágoa.
Ah
Túlio, fostes único, assim como a estrela solitária do clube que o glorificou. Um
amor em preto e branco. Cantastes um soneto em homenagem aos abnegados. Era uma
chama que ardia e inflamava os aficionados; um símbolo de ostentação para os
incompreendidos. O júbilo do fogo.
Sua
expressão ressaltava um compêndio
de trivialidade e presunção. Rei dos chistes e das falácias. Era o palhaço dos
campos; fazia das quatro linhas o seu picadeiro, e seu sorriso contagiava a
todos nós. Era uma fina flor fincada num pântano de agonia.
Foi
o grande Don Juan dos boleiros. Vestiu mais de 20 camisas e fez juras de amor a
todas elas. Traidor e amante inveterado. Por fim, só dedicou amor a uma
bandeira... E para lá voltará mais uma vez. Túlio foi uma obra satírica; uma
comédia, um romance. Uma dramaturgia de Moliére.
Gol
de impedimento saudado com louvor, gol de mão, de calcanhar. Uma provocação aqui,
um gracejo ali... Era um Deus entre os normais. Usou a 7 de um certo Mané, e
foi contemplado como uma verdadeira enciclopédia. Um livro bem escrito do bom
humor.
Punhado
de ilusões; mentiras que ouvimos quando os ventos nos trazem. Os detratores contestarão
esses números; os fãs farão contagem regressiva. Talvez não sejam mil, como não
foram os do Romário, mas que sejam 800, 900... Não importa! Saudemos aquele que
nos encantou com a sublime arte do rir. Aplausos para o milésimo gracejo de um
artista.
A rivalidade e as provocações não são mais como antes, relembrar essa época assim como ver um jogador que sempre fez sua função parecer fácil não têm preço. Ele merece todas as honrarias e saudações de um time que joga por muitas vezes bem, mais que não costuma converter em gols na mesma proporção.
ResponderExcluirAmigo é com grande orgulho que venho escrever nesse espaço.Pimeiro gostaria de dizer que este texto ficou perfeito e que tal perfeição tocou na minha alma de esportista e de fan do verdadeiro futebol arte. Tulio foi e é único alegrou toda uma nação e criou sem perceber uma legião de torcedores do verdadeiro futebol brasileiro.Sendo assim posso apenas parabenizar pelo belo texto e que possa haver outro quando chegar aos mil.
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