Chega ao fim uma das mais longas
relações entre um atleta e um clube no futebol atual. No Arsenal desde 2004, o
holandês Robin van Persie se transferiu nesta semana para o rival Manchester
United. Enraivecidos pela saída de seu principal jogador, torcedores dos
gunners queimaram várias camisas do atleta que marcou 132 gols com a camisa
vermelha.
Eis
aqui o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de Shakespeare: ser referência máxima de um clube que não conquista títulos, ou jogar em um time mais forte e cobiçar
um maior sucesso profissional? Van Persie escolheu a segunda alternativa e
adentrou na incômoda lista dos maiores traidores futebolísticos da história.
O
Futebol é fantástico! Que outro esporte no mundo pode ser tão apaixonante? E que
outra coisa pode desafiar com tanta veemência a nossa compreensão? Drama,
suspense, alegria, tristeza... Um universo paralelo delimitado por quatro linhas
e um turbilhão de sentimentos. Arte subjetiva que converte regozijo em consternação.
Gêneros, sensações... Sob a imposição de suas regras, homens se glorificam,
outros são desonrados, e mocinhos transformam-se em vilões. E mais um seria
detratado...
No
futebol a decepção pode ser eterna. Em seus gramados, além do imponderável,
também habitam conflitos morais e psicológicos, onde não há em qualquer outro
segmento.
Assim
como a vida, o Futebol serve de palco para uma das práticas mais nefastas do
ser humano, a traição. E como ela dói! E se torna pungente quando a recebemos
de quem menos esperamos. Um ídolo, uma torcida fanática, alguns gols... Uma
mácula que jamais será esquecida.
Nelson
Rodrigues a descreveu com maestria em suas linhas, versos e crônicas. Entretanto,
ao contrário de uma traição conjugal, o ressentimento dos aficionados pode
durar para sempre. Ao vestir a camisa do grande rival, Van Persie assinou um
contrato onde as clausulas são as críticas, as ofensas e a carcoma indelével da
deslealdade. Alguns irão bravatear que a troca foi vantajosa, será mais bem
pago. Nada mais óbvio do que uma traição motivada pela ambição.
Sua
saída do Arsenal não irá provocar uma lágrima de saudade, despertará, porém, um
rancor descomunal. A cada jogada, a cada gracejo, será amaldiçoado com o fervor
de uma alma vilipendiada. O ininterrupto discurso fraterno cairá no abismo infindável
do ódio.
Ah
Van Persie, as arquibancadas que vibravam com seu talento não serão as mesmas que acharão
ocasião para cantar uma saudade. Serás insultado no meio de um mar de gestos e
palavras. A cada um de seus atos, o tribunal
anônimo da opinião será seu juiz e seu acusador. Ou será que não? Mágoa,
contentamento, virtudes, defeitos... Roda gigante de sentimentos. Tudo é transitório,
sob as luzes do teatro verde.
Heróis
que se vão, outros que chegam. Os olhos rasos do pranto se tornarão felizes
outra vez, e o tempo se encarregará de apagar todas as manchas. O amor e o ódio
são como plantas: brotam e murcham com a mesma velocidade. Traidor hoje,
elemento de nostalgia amanha. O Futebol e seus desígnios.
POR: Otávio Camilo
O futebol Estrangeiro não tem costume de ver essas cenas costumeiras e corriqueiras que acontecem aqui no Brasil, onde jogadores e técnicos são descartáveis sendo jogados de um lado a outro, várias vezes durante uma só temporada. Aqui se troca de time como se troca de camisa suja, sem falar no falso comprometimento beijando todas as bandeiras e brasões por onde passam... Inclusive dos arqui-rivais. Por isso, com eles o ódio passa a ser ainda maior.
ResponderExcluirSe eu fosse ele faria o mesmo. A vida só é uma. Um jogador vive de títulos para ser lembrado, treinam dia-a-dia para se destacar, serem reconhecidos. A pergunta não é por que ele deixou o Arsenal, e sim: Quem resisteria a propostas do Real Madrid CF, FC Barcelona, Manchester United....
ResponderExcluirDizem que Messi é e sempre será fiel ao Barcelona, eu acredito. Mas com certeza se o Barcelona fosse um Valência, um Alético de Madrid... ele sairia! Faz parte! Traidor soa muito fanatismo, a incapacidade total é do clube de não gerir um projeto sólido que atraiam seus craques, não seguraram Fábregas, etc...
PS: Fica a pergunta, como o PSG conseguiu atrair tanta gente? Investimento e projeto de um grande clube e grandes AMBIÇÕES. Coisa que o Arsenal atualmente não tem! Por isso da mesma forma que o Ibra saiu do Milan, o VP saiu dos Gunners....
Mas a questão é ele simplesmente FORÇAR a barra pra sair do Arsenal e ir para um RIVAL.
ResponderExcluirEle não era um ZÉ NINGUÉM no Arsenal não, ele era simplesmente um ÍDOLO, o mínimo que ele podia fazer é retribuir melhor todo o carinho e respeito que adquiriu em Londres. Almejar títulos não é problema, todo mundo almeja, o problema é quando vc simplesmente DESRESPEITA uma equipe que te recebeu de braços abertos e te colocou o status de ÍDOLO. E cadê toda aquela "identificação" com o Arsenal?
Pra mim, um exemplo de HOMEM SÉRIO é o Totti. Jogou na Roma a carreira inteira e isso tendo que recusar propostas MILIONÁRIAS, pra continuar numa equipe que ele REALMENTE se identifica.