quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Do Araguaia à Pasárgada



                 

             O ser humano e as suas singularidades. Jamais entenderemos plenamente o que se passa conosco, quanto mais relatar o que acontece dentro de outro ser. Cada pessoa é um universo pouco explorado, pouco conhecido. O homem e a expansão ao infinito.

                 Quão misteriosas podem ser as contradições da existência. Nossos pés fincados sobre o chão seco e duro da realidade, e a nossa mente a vagar por caminhos nebulosos. Somos todos marinheiros; guiando a veleira escuna da ilusão, aquela mesma que navegamos pelo menos uma vez na vida, quando nos cansa a terra firme e verossímil. Vede um marujo onírico...
                 Próximo das beiradas sossegadas do Araguaia, surge uma das grandes inquietudes atuais do esporte bretão. E como explicar o paradoxo e a semelhança entre o homem e a natureza? Um rio que transborda encanto e romantismo; um jovem que exala luxúria e agressividade. Uma paisagem que nos oferece a magia do estupendo; um atleta que transmite a consumição da incerteza. Suas águas correm serenas como as pernas engenhosas de um jogador; suas flores desabrocham belas e altaneiras analogamente ao talento pueril de um ribeirinho. As margens do rei das araras vermelhas são como o semblante de Jobson: cobertas pelo manto do silêncio, mas sobressaltadas por nuvens negras e tempestuosas.       
                 Antes de sermos acorrentados aos grilhões invisíveis das formalidades, contemplávamos apenas o mais elementar dos instintos: a liberdade. Digamos, apenas, que o Jobson subverte tal concepção, recriando-a ao seu modo. Em seus olhos podemos ler a clara exacerbação do espírito; uma luta áspera e sangrenta do homem contra ele mesmo. A realidade circundante esfumava-se para ele...
                 Como podem ser enigmáticos os recurvados pontos de interrogação. Viver sob o julgo das convenções, quando o seu destino é regado pela dose da libertinagem e da irresponsabilidade. O Jobson é um morador solitário das limítrofes terras entre o real e o fantasioso. Habitante único daquele devaneio de Manuel Bandeira; uma cidade portentosa, embelezada pelo canto das ninfas; de seu solo fértil jorra leite e mel. Seus suntuosos palácios convertem-se em imensos haréns, onde as mulheres ainda não perderam a graça virginal, e das quais ele pode dispor como bem entende. Um soberano mórbido dos mais obscuros prazeres; todos eles banhados pelo mar perpétuo e inebriante do álcool. Ele foi embora para Pasárgada.  
                Diferentemente do Marquês de Sade, aristocrata voluptuoso que morreu encarcerado na Bastilha, e que viveu por 120 dias na insanidade de Sodoma, o júbilo libidinoso de Jobson não desvanece pelas regras frívolas do tempo. Será lascivo eternamente, assim como é a sua viagem naquela embarcação imaginativa
               A imaginação multiplica os zeros; com um grão de areia construímos um mundo inteiro. Diante da saga de um pobre homem, o que diríamos sobre o desígnio de um devaneio, se não for o da fuga de um cotidiano cruel ou dos fatídicos padrões sociais? Dormimos na singeleza de nossas camas, e de repente acordamos deitados sobre as alamedas dos Jardins Suspensos da Babilônia. Um simples piscar de olhos nos permite romper as barreiras da vastidão do espaço. Relemos o passado e atravessamos o futuro através do mero ato de pensar. O Jobson é um libertino, um irresponsável! E Daí? Eis aqui o grande manjar do espírito: o devaneio é uma dádiva e o soneto da vida e dos sonhos é o que queremos. Um brinde a isso!   

POR: Otávio Camilo
               
                 

Um comentário:

  1. Maturidade se adquire com o tempo, pra alguns mais cedo, outros mais tarde. A oferta de ilusões da vida bate na porta de qualquer um, principalmente para aqueles que procuram uma válvula de escape para todo o estresse do mercado frio e calculista do futebol onde jogadores não são vistos como seres humanos e sim como simples "peças" de reposição.

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