Há atitudes que melhor se dizem
calando, mas seria muito fácil prostrar-me sob a sombra do silêncio indignado
ou da indignação. Algumas coisas são eternas como as pedras fincadas no chão; perpétuas
como a epopeia de tristeza de um bravo povaréu. Que venham as obviedades...
Pobre povo nordestino! Poderia vocês identificar nessa
proemiar frase uma exaltação da síndrome coitadista que permeia o pensamento de
toda uma região, ou uma lamentação cretina de mais um desses filósofos da
calamidade. A miséria que nos aflige vai muito além de um solo árido, do sol
totalitário, das retiradas da fome, dos braços rijos empunhando uma enxada ou
de uma mãe que pranteia a perda de um filho. Em nossa essência permanece
gravada uma carcoma indelével, e que já faz parte da nossa vasta cultura. A
terra mais bonita e amável do mundo; as noites aconchegantes e macias, o céu
bordado de estrelas, a voz maviosa dos cantadores e as palavras infinitas dos
nossos literatos. Imensuráveis são os nossos encantos; perene é a nossa santa
ingenuidade. A beleza dos cenários nos enche de orgulho e cativa os olhares
externos, mas a antítese do conhecimento é o que nos distingue, e a ela devemos
os piores flagelos: a política e seus partícipes.
Os carentes e ignaros eleitores das pequenas cidades
nordestinas ainda padecem das práticas rançosas do passado. Subjugados,
manipulados e subornados pelos coronéis modernos. Homens e mulheres que
garantem a subsistência através de favores e objetivos espúrios, subordinados
as imposições de tais politiqueiros. O voto de cabresto é mais antigo do que a
própria tolice, e ele será infindável tal qual a ignomínia. É diante desse
concerto sinfônico dos “encabrestados”, que surgem os mais engenhosos maestros.
Indivíduos que emergiram do mar eterno da corrupção e pautaram suas vidas
públicas sob a ótica medonha desse vil costume. O palco sagrado dos discursos
de Rui Barbosa nunca fora tão molestado. A casa que guarda a democracia foi
transformada em um mortal pântano de prevaricação, em que apodrece e morre
tantas vezes a flor das nossas esperanças.
Na
última semana, dois nordestinos foram designados aos postos mais elevados do
Congresso Nacional. O que para mim poderia representar uma espécie de orgulho
regionalista, não foi além de uma torrente de angústias e frustrações. Homens
que postam-se sempre como um daqueles pomos, que exibem na superfície a mais
fresca e viçosa honestidade, e que entretanto trazem no âmago o germe da
sordidez. Um deles, norte-rio-grandense como o jornalista que vos fala,
aproveitou-se dos benefícios do poder oligárquico de sua família, e há mais de
40 anos fez do seu ofício de arauto da servidão o mais vantajoso dos encargos.
Fez da política uma profissão. O outro, nascido na terra dos marechais, foi
aliado fiel daquele a quem todos baniram da Presidência da República.
Recentemente, ainda no comando do Senado, protagonizou um escândalo denominado
de “renangate”, em alusão ao famoso caso americano. Empresas fantasmas,
laranjas, empreiteiras, tráfico de influência... Acima de tudo isso soa o eco
vago e surdo desta interrogação: seremos testemunhas de um drama ou de uma
comédia?
Caberia a mim a mais profética das evidências,
se afirmasse que ficaríamos sorrindo como em um imenso picadeiro, daquele
gracejo oblíquo dos maus. A cidade onde reina o esplêndido astro-rei e seus
ardentes raios dourados merecia regentes melhores do que esses que ostentam o
sobrenome Alves. Assim como a estrela radiosa das Alagoas seria mais imaculada
sem a malícia habilidosa dos Calheiros. As opressões do passado ainda são vivas
em nossas mentes, e os personagens capeados de dissimulação e duplicidade ainda
nos governam. Até quando?
A direta
ingenuidade dos puros estabeleceu uma perene aliança com a hipocrisia paciente
e sistemática dos falsos políticos. Sentados no trono da igualdade, Renan e
Henrique estarão se deleitando mediante um riso interior, que é o mais voluntário,
cruel e também o menos arriscado que poderíamos dar às vaidades humanas. “Enganaremos
os tolos mais uma vez”. É assim que pensam.
Malditos sejam vocês, canalhas! Corja que se ufanam da inconsequência
de milhares; amontoado de sanguessugas de sede ilimitada; escória danosa que se
negam a atender aos apelos das vozes roucas das ruas. Mancharam o seio da nossa
democracia com as cores negras da desgraça. E nós, vítimas da perfídia dos
poderosos, abandonamos velhos hábitos, mas trouxemos intacta aquela citada ingenuidade.
A onda da vida nos trouxe à mesma praia, e nela continuaremos a roer o pão da
solitude moral. Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, ascendam e caiam, do
mesmo modo que os fétidos frutos despencarão dos galhos da mais formosa das árvores.
Saudemos a vergonha do Brasil!
Otávio
Camilo
VERGONHA!!!
ResponderExcluirDo futebol para a política, esse Otávio é fogo mesmo.
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