O MAIOR ÍDOLO DO FUTEBOL POTIGUAR ABRE SUA CASA PARA CONTAR UM POUCO DA SUA HISTÓRIA E EMITIR SUA OPINIÃO SOBRE ASSUNTOS ATUAIS DESSE ESPORTE.
ALBERI JOSÉ FERREIRA de Matos (Recife, 28 de janeiro de 1945) é um ex-futebolista. Foi o mais famoso atleta de futebol do Rio Grande do Norte, conquistando seis títulos Estaduais e a Bola de Prata da Revista Placar em 1972 (prêmio concedido até hoje aos melhores jogadores de cada Campeonato brasileiro). Apesar de não ser natural do estado, foi nos grandes clubes de Natal onde alcançou notoriedade em sua carreira profissional.
Quando jovem, a bola não era prioridade em sua vida. Tanto que só começou a jogar aos 23 anos. Alberi alega que naquele tempo não existia uma cobertura massificada da imprensa nos campeonatos, e nem tantos empresários colocando atletas ruins em clubes grandes. Marcou 210 gols com a camisa do alvinegro potiguar, e para muitos especialistas é o maior jogador que já atuou por clubes locais. Casado, pai de nove filhos e avô de 11 netos, trabalha na secretaria de Esportes da capital potiguar dando aulas de futebol para crianças.
ATUALMENTE, O SENHOR AINDA É UM FREQUENTADOR ASSÍDUO DOS ESTÁDIOS?
Alberi Ferreira – Eu sempre estou nos jogos do ABC, por causa da proximidade da minha casa. Frequentar os jogos do América é um pouco mais difícil devido a distância, mas tento ir sempre. Inclusive, tenho uma cadeira cativa lá no estádio Frasqueirão, onde posso ver mais a vontade as partidas. O que me impede um pouco de ir aos jogos é essa violência das torcidas, que é um dos grandes problemas do Futebol atual.
O SENHOR TEVE UMA PASSAGEM MARCANTE PELOS TRÊS CLUBES DE NATAL. AFINAL, QUAL DESSES TIMES FOI O MAIS MARCANTE EM SUA CARREIRA?
Com certeza foi o ABC. Tive uma passagem muito bonita pelo alvinegro, tendo conquistado quatro títulos estaduais, além da enorme identificação que tive com o torcedor. Foi lá onde alcancei o ápice da minha carreira e a conquista da Bola de Prata.
SEM FALSA MODÉSTIA: O SENHOR TEM CONSCIÊNCIA DA DIMENSÃO DE SUA IMPORTÂNCIA PARA O FUTEBOL LOCAL?
Eu tenho noção do meu valor quando chego aos estádios, seja jogo do ABC ou do América, e sou saudado de forma tão calorosa pelas torcidas. Eu fico muito feliz pelo reconhecimento, mesmo depois de tanto tempo da minha despedida dos gramados. Essa demonstração de carinho por parte dos torcedores significa dizer que fiz um bom trabalho.
COMO É A VIDA DE UM EX-ÍDOLO?
Uma vida como qualquer outra. Sou uma pessoa normal e tenho uma vida muito simples. Infelizmente, o Futebol de antigamente não é como o de hoje, onde existe uma badalação muito maior em cima dos atletas, e o dinheiro é algo simples de se conquistar. Saio na rua com a maior tranquilidade do mundo. Nunca tive uma vida de pop-star.
O FUTEBOL MODERNO É MUITO DIFERENTE DAQUELE QUE ERA PRATICADO NA SUA ÉPOCA, PRINCIPALMENTE EM TERMOS FINANCEIROS. SE JOGASSE HOJE, O SENHOR SERIA UM HOMEM RICO?
Você não tenha dúvida disso. Pelo talento que eu tinha, e pelos recursos que são oferecidos aos jogadores da atualidade, certamente eu seria jogador de um grande clube brasileiro e estaria nadando no dinheiro. Mas eu não sou frustrado por não morar em uma mansão, poder desfilar em carro importado, ou esbanjar qualquer outra coisa por aí. Eu sou um homem feliz com o que eu tenho.
O SENHOR RECEBEU MUITAS PROPOSTAS DE TIMES DO EIXO RIO-SP DEPOIS DA CONQUISTA DA BOLA DE PRATA, MAS RECUSOU TODAS ELAS. POR QUÊ?
Porque eu me sentia desvalorizado por essas equipes. Recebi propostas de times como Fluminense, São Paulo, Botafogo e Internacional. No entanto, todos eles chegavam aqui e me ofereciam três meses de contrato, ou seja, apenas um período de experiência. Eu achei que os dirigentes desses times foram arrogantes, ao pensar que poderiam chegar aqui em Natal e me levarem por qualquer quantia ou de qualquer jeito. Eu era o grande jogador nordestino da época e tinha que ser mais respeitado.
QUAL O SEU PENSAMENTO A RESPEITO DA CLASSE DE DIRIGENTES ESPORTIVOS DE NATAL?
Falta profissionalismo. Conheço todos eles e sei que são homens sérios e trabalhadores, mas acho que o nosso esporte merece cartolas menos amadores. Apesar disso, acho que os clubes estão se desenvolvendo pouco a pouco; o ABC já possui seu estádio, e o América tem um planejamento para a construção de uma Arena esportiva, ou seja, ambos estão se estruturando, e isso se deve a uma certa qualidade administrativa dos dirigentes.
A QUAL MOTIVO O SENHOR ATRIBUI A FALTA DE NOVAS REVELAÇÕES NO FUTEBOL POTIGUAR?
Tenho absoluta certeza que é por causa da ação nefasta dos empresários. Os clubes revelam bons valores, mas eles não ficam muito tempo por aqui. Para você ter uma idéia, garotos de 16 anos já possuem duas ou três pessoas encarregadas de tomar conta de sua futura carreira profissional. Esses agentes aliciam as famílias e os garotos de uma maneira que não é a mais correta, a fim de negociarem os meninos para um time de fora do estado, visando apenas os seus próprios interesses. É uma relação promíscua.
QUAL A SUA EXPECTATIVA EM RELAÇÃO A COPA DO MUNDO AQUI EM NATAL?
Vejo com bons olhos. Eu entendo que esse evento irá trazer benefícios para a cidade e para os clubes, principalmente pela construção de um estádio mais moderno e que será a nova casa do Futebol potiguar, o Arena das Dunas. Só espero que a organização da Copa seja realizada com transparência e honestidade, e que o povo da nossa cidade seja homenageado com um bom espetáculo.
Muito boa entrevista!
ResponderExcluirValeu, Alberi! Ídolo eterno!