domingo, 5 de maio de 2013

Onde está o meu pai?


Uma singela homenagem a um amigo atormentado por uma enorme perda.

 Este ano o pai de um amigo morreu. O cruel e inabalável destino lhe condenara ao suplício de uma tempestade sem calmaria. Suponho que todos os leitores deste blog tenham ou tiveram um pai, e presumo que vocês entendam bem o sofrimento que meu companheiro está sentindo nesse exato momento, e o sentido poético de alguns inconsoláveis vocábulos, embora eles não redimam, não curem, não exorcizem e não amenizem em nada tamanha dor.
Neste ano de 2013, não restará, para ele, outro assunto possível. O que importa se centenas de pessoas foram dizimadas em Santa Maria? O que interessa se meteoros caíram na Rússia ou o Hugo Chávez perdeu a luta contra o câncer? Tudo o que passou ou que passará será apenas supérfluo, meros percalços de um ano como qualquer outro. Este 2013 não será, em sua mente, o ano em que se formou na faculdade, o ano em que seu time ganhou mais um campeonato brasileiro, o ano em que aconteceram, antes e depois do fatídico 4 de maio, coisas boas e outras tantas coisas más. Não! Será sempre o ano em que seu pai morreu.
           
       Estarei sendo piegas? Talvez. No entanto, aqueles que ainda lamentam pela despedida do homem que lhe concedeu a dádiva da vida, compreenderão os pêsames de um pobre escritor. Um pai que se perdeu por entre os olhos de um filho querido; um filho que busca esse pai incessantemente. Onde ele está?


Era uma manhã triste, porém límpida e suave. Eu, sorumbático poeta, seguia vagando pela estrada que conduz a um campo solitário, como um filho que volta ao aconchego paternal. Lá fora, nascia mais uma perfeita aurora do mês das flores e do lirismo. Nessa hora augusta a saudade não se descreve. Sou apenas um jovem que ainda clama por sua protetora presença, desafiando a triste ventania que perpassa em minha fronte como um verbo de calamidade, como um grito de aflição. Onde está o meu pai?
Ele, que dos seus olhos doces refletia um raio de luz nas sombras dos meus medos e anseios, capaz de trazer a lua e o sol para me consolar. O portentoso astro que ilumina a morada dos anjos nada pôde em meu desespero, e agora me abrasa a face e me pune com a tua ausência. Onde está o meu pai?
Estará naquela estrada sombria da existência, onde me ajudou a atravessar quando eu estava sozinho? O meu pai foi a mais bela flor de um jardim de etéreas rosas, nos vergéis da minha adolescência; a estrela mais fulgurante, guiando-me pelas trevas de um céu noturno. Por vezes, sentia as suas asas de arcanjo errante, me indicando os obstáculos a serem superados no longo caminho da vida. Mas agora não o vejo. Onde está o meu pai?
             Pai! Pai! Que tétrico sonho me perturba, na contemplação do sonho de uma noite infinda, este em que o senhor não me abraçaria sorrindo. Leva-me contigo, para ouvir a melodia das harpas inspiradas, o canto mavioso dos seus companheiros alados. Enche de amor e ternura o meu céu angustiado e pueril, o mar de minhas paixões imaturas. Leva-me pelos dédalos profundos, lugar onde se agitam as eras, sóis e mundos... Tudo aquilo que me concedeste com tuas sábias e carinhosas palavras. Perdi-me, ao largar as suas mãos por entre as nuvens. Onde está o meu pai?
Estará no país da harmonia, na terra dos jardins magníficos, onde a brisa é mais suave e afetuosa? Quero continuar seguindo seus passos, pai; quero contigo me arrojar no espaço. Permita-me acompanhá-lo à plaga fantasiosa, banhar-me nos lagos azuis, erguer-me ao teu lado no infinito. Quero estar com o senhor no local onde o vôo da águia não se eleva. Onde está o meu pai?
Procurei a mais bela das poesias num cantinho da casa, no balanço contínuo que contava histórias nas quentes tardes dos verões de outrora. Procurei-te na tua solidão, pai, naquela silenciosa companheira antes cheia de regozijo, da qual escorria pela madeira rafada as lágrimas do seu rosto cansado. Por fim, tentei encontrá-lo no seu refúgio de remanso sono, mas o senhor também não estava lá. A velha cadeira estava vazia, assim como os nossos corações em sua despedida. Em soluços murmuramos: adeus!

Deixo aqui minha condolência ao companheiro Hebert Moura e toda sua família.

Otávio Camilo

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